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  • Foto do escritorArthur Gadelha

‘13 Sentimentos’ no Dia dos Namorados e os gays ‘Emocionado’s

ESTREIA + CINE PE Por um acaso do destino, o paulista ’13 Sentimentos’ e o pernambucano ‘Emocionado’ chegaram em mim na mesma semana


“Meu filme é fútil” – foi assim que Pedro Melo apresentou seu filme num almoço informal, e improvável, em uma mesa com alguns críticos de cinema que estão cobrindo o 28º Cine PE em Recife nesta semana. Naquela noite, o pernambucano “Emocionado” estreou no Cineteatro do Parque sob forte empolgação de uma plateia que estava preenchida com seus amigos e familiares, mas também com os que nunca o viram na vida, como eu e outros jornalistas ao meu lado. A história de um garoto gay obcecado por uma paixão inventada era, felizmente, simples demais. Era uma história banal, engraçada e feliz. Era esse o ponto. De comédias românticas o cinema comercial está recheado, mas temos histórias assim para além da heteronormatividade?

 

Nesta semana chega aos cinemas “13 Sentimentos”, novo longa de Daniel Ribeiro que marcou seu nome com os filmes de “Eu Não Quero Voltar Sozinho”. Muito compromissado com esse olhar radiante para a banalidade dos conflitos amorosos de um homem qualquer – que por acaso é gay – seu filme abraça essa percepção a partir de uma metalinguagem cansada, mas funcional, tendo como protagonista um roteirista que está “escrevendo a própria história”. Com a escrita, Daniel tem o poder de construir qualquer universo, então por que não criar um onde a homofobia não existe? Sem violência, punição, fuga ou finais tristes – percepção que até deu a sua versão inglesa um título literal: “Perfect Endings”.

 

Mesmo com uma distância abismal de orçamento e mídia, “Emocionado” e “13 Sentimentos” existem pelo mesmo motivo e compartilham até cenas parecidas, mesmo que um esteja na periferia do Recife e o outro nos altos prédios de São Paulo. A paixão súbita e o telefone que não toca mais – será que morreu ou não gostou do meu beijo? O olhar para a rotina e, principalmente, para a chamada “rede de apoio” com a ajuda onipresente de amigos que escutam sua jornada como se acompanhassem uma série de TV. “E aí, como foi lá com o boy?”


Filmes, porém, não são feitos de intenção. Além da coincidência de assistir esses dois filmes com intervalo de poucos dias, resolvi juntá-los no mesmo texto pela curiosa percepção de que a obra com menos desenvolvimento e capacidade de técnica foi a que mais me cativou. Enquanto Daniel usa a brincadeira do roteiro, Pedro usa a metáfora dos games, um elo que liga seus dois amantes que vão passando de fases e precisam tomar decisões de rumo como num RPG.


“Ficar de boa ou Passar Vergonha” são botões que surgem na tela para ajudar seu protagonista a decidir o próximo passo. Mesmo com limites na construção do som, na direção de atores e na própria criação estética de cenas, o diretor e sua equipe nunca deixam de ser “emocionados” com a missão de dar vida a uma história leve e deliciosamente “fútil”, exatamente como foi apresentado.

 

Tendo produtora maior, dinheiro e um diretor experiente, é claro que “13 Sentimentos” é um filme tecnicamente bem realizado, permitindo-se até a fugir um pouco do quadrado nas cenas em que seus personagens dividem a tela e conversam entre si. Mas é muito mais artificial. Não só pela entonação e pose de todos os atores, mas pela coordenação muito exata das palavras e gestos, fugindo da casualidade pretendida para expor sua estrutura polida e pouco convincente.


Michel Joelsas e Artur Volpi tentam se desfazer dessas amarras, mas parecem engessados na maior parte do tempo. Essa distância entre gesto e ato num "filme-gay-feliz" me lembra outro de considerável sucesso, Vermelho, Branco e Sangue Azul (2023), onde a paixão pela fábula lapida muito sua emoção. O argentino Fantasma (2022), de Roberto Doveris, também merece ser citado aqui, mas como um exemplo mais eficaz.

 

Suponho que Thalis Italo e Mariana Castelo, do curta, tenham menos técnicas de atuação que os atores do longa, mas em tela eles parecem mais confortáveis e disponíveis para a brincadeira que o filme é, equação que me lembra algumas performances da outrora badalada “Sex Education” da Netflix, que em alto grau tinha esse mesmo propósito de construir personagens queers com direito à felicidade. No cinema, a plateia aplaudia os beijos e reagia intensamente às piadas, com direito à um Kleber Mendonça FIlho Cult Cult, revelando uma grande sintonia com o propósito.

 

Mesmo com seus momentos de tédio e repetição, ‘13 Sentimentos’ está estreando na semana do nosso Dia dos Namorados e, como tem a distribuição que um curta nunca terá, ainda me parece uma boa ideia de sessão para ir ver com amigos e família, parar rir e achar bobo também. No fim das contas, Daniel e Pedro querem o mesmo, que é ver “todo o mundo podendo brilhar num cântico...”, como cantou Caetano. Assim como o artista baiano, eles sabem que “noutras palavras” são só diretores “muito românticos”.

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