A angústia do talvez: o espaço de Béla Tarr e Alexandre Veras
Atravessamento sensorial de "O Cavalo de Turim" e "Linz - Quantos Todos os Acidentes Acontecem
Os segundos de “Linz — Quando todos os acidentes acontecem”, de Alexandre Veras, passam no mesmo fluxo de um frágil pertencimento que Béla Tarr invade na insistência do tempo em “O Cavalo de Turim”. Em ambas as telas, da Hungria e do Ceará, há um mundo se desfazendo (ou mutando em si mesmo), e resta aos seus personagens atravessá-lo para não acreditar que, talvez, façam parte desse mesmo fim. Mas acontecem os acidentes.
Em “Linz”, um homem fica preso ao espaço — Tatajuba, cidade próxima a Jericoacoara que foi sumindo à medida que o vento mudava as dunas de lugar. Ele “ainda” existe, tornando-se por isso um forasteiro num lugar que desapareceu.
Em “Cavalo de Turim”, pai e filha ficam presos ao tempo. Os dias passam como se não pudessem passar e fossem, por isso, a absoluta ilusão de uma coisa que nunca acaba. Enfrentando o desejo de sobreviver, lutando contra os ventos (que aqui não levam dunas), guardam-se num abrigo para quando o mundo ceder. Ali, pela servidão à rotina e suas limitações, o espaço é que é o forasteiro. Quem pertence a quem?
"O tempo, de qualquer forma, faz parte da nossa vida. Tempo e espaço, e você não pode ignorá-lo. Eu sei que a maioria dos filmes está ignorando o tempo, porque eles estão apenas passando o enredo, estão apenas contando a história. Mas não sabemos o que está acontecendo no mundo, realmente. E eu estou interessado no mundo, não apenas em filmá-lo" — Béla Tarr
Enquanto o tempo lentamente muda o espaço, desaparecer talvez não seja uma escolha, mas a única forma de efetivamente poder pertencê-lo. Pois não é quando Bacurau some do mapa que seu povo assume sua maior afirmativa de identidade?
Diferente do filme pernambucano, aqui citado quase como um alienígena nessa discussão, “Linz” e “Cavalo de Turim” não conseguem afirmar desejo ou pertencimento, mas é a resposta sobre o espaço-tempo e seu destino que desaparece. Ficamos no talvez, muito mais angustiante que a certeza do fim.
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