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Foto do escritorArthur Gadelha

Amor de Mãe #02: uma história que precisa dar voltas em si mesma

Em sua segunda semana, “Amor de Mãe” se distancia dos núcleos centrais para apresentar a essência de sua estrutura

Gerou-se grande expectativa em torno dos enredos das mães protagonistas: Lurdes, Thelma e Vitória, mulheres de histórias e realidades socioeconômicas distintas que tiveram suas vidas entrelaçadas por conta dos filhos. O espectador acostumado com as narrativas centrais que a linguagem das novelas contemporâneas geralmente buscam para desenhar certa “evolução” da trama, no entanto, pode ter se assustado com a velocidade com que essas tramas engatilharam em apenas uma semana. Lurdes encontrou Domênico, seu filho perdido que hoje está preso; Thelma tenta conviver com a informação de seu aneurisma e o restaurante assediado pela construtora; Vitória conseguiu adotar o filho e descobriu no mesmo dia que estava grávida. E então? Pra onde essa história pode ir agora?


“Tudo está conectado”

Enrique Diaz e Adriana Esteves em cena

A frase acima, usada na divulgação de Cloud Atlas, filme dirigido pelas irmãs de Matrix, poderia ser adaptada para este contexto. Em sua segunda semana, a roteirista Manuela Dias deixou claro o interesse em complexificar a fantasia do aparente realismo social de sua trama. Com cara de mundo real, Amor de Mãe parece fabular sobre os conflitos sociais ao apostar numa estrutura cíclica, construindo um cenário onde todas as peças necessariamente encaixam. É por isso que não há um núcleo de humor, outro de drama, um pobre e um rico. Tá tudo junto.


Na segunda semana, surge o laço de Amanda (ex-namorada de Danilo, filho de Thelma) com Álvaro, chefe da empresa que quer destruir o restaurante. Planejando uma vingança contra o empresário, conhecemos seu pai, vítima das ações anti-ambientais da empresa. Durval, vizinho de Amanda vivido por Enrique Díaz, é um motorista de Uber que acaba conhecendo Thelma em uma viagem coincidente - param pra tomar uma água de coco e acabam topando tomar um banho de mar. Davi, o ambientalista vivido por Vladimir Brichta, conta para o pai que está apaixonado por Vitória - o pai é Miguel, amigo íntimo de Lídia, mulher traída por Raul, empresário amigo de Álvaro.


A teia é fundamental. Danilo agora é funcionário do restaurante em que Magno conversa com Wesley sobre o assassinato em que se meteu. A menina grávida que é expulsa da sala de aula da professora Camila (filha de Lurdes) é irmã de um dos amigos de Marconi, traficante do clã de Sandro.


A partir disso a proposta é clara ao criar uma teia social que se autogere, algo que talvez queira dizer Parasita, de Bong Joon-Ho, por exemplo. Isso porque nem todos os personagens já estão postos à mesa... A impressão, por conta disso, é que as coisas estão acontecendo todas muito rapidamente, mas imprimem também a suspeita de que essa novela não tenha miolo, que seja uma engrenagem viva. Está cedo para saber isso, mas por enquanto vale a sensação.

Novas faces

Maria e Irandhir Santos

Partindo dessa ladeira por onde correm os enredos dessa história, há um destaque aqui para o que Manuela faz de Lurdes e o pontapé que dá em Álvaro. Lurdes, a mãe boa e acolhedora, descobre que tem um filho no mundo do crime. Se a “mãe santa” já era endossada por acobertar um crime cometido pelo filho no primeiro episódio, agora ela se envolve diretamente na estrutura do crime para proteger a vida de Sandro, seu “novo” filho.

A linha tênue entre certo e errado que vive Lurdes empolga ainda mais o realismo com que Regina Casé desenha sua personagem. Aqui ela tem volume próprio ao conviver no “núcleo” de Vitória, da família, de Thelma e de Sandro. Não é fácil “estar de um lado” ao assistir às tramas de Manuela, e isso é um traço muito interessante.


Álvaro é o vilão apático vivido pelo grande Irandhir Santos. No texto da semana passada, evidenciava que o núcleo rico de Manuela não parecia coisa dela por ocuparem muito categoricamente uma “vaga de vilão”. Na segunda semana, porém, surge uma centelha: Álvaro será pai de uma mulher jovem. Ao anunciar sua gravidez, ela chora, teme que ele desconfie ser um golpe, oferece o aborto em si mesma como opção. Álvaro, porém, se emociona: um de seus maiores desejos é ser pai - lembra Vitória, advogada que o defende na remoção do restaurante de Thelma, mas que emociona o público ao descobrir como é ser mãe. Bom, com Álvaro a empatia não está feita ainda, mas Manuela tem as cartas na mão.


Amor de Mãe

Humberto Carrão, Vera Holtz e Regina Casé

A mulher que sequestrou Domênico aparece ainda na primeira semana na pele de Vera Holtz, interpretando uma Kátia sofrida e marginalizada. No primeiro episódio da segunda semana, porém, a vilã ganha traços de afetividade, ao revelar que ela mesma cuidou de Domênico como se fosse seu filho. A mensagem está clara ao evidenciar que o amor não é “autorizado” por óticas urbanas ou sociais, mas que ele existe na esfera da própria existência. Não à toa, Lurdes posteriormente passa pelo mesmo, envolvendo-se com o crime pelo instinto de proteger o filho. É o tipo de complexificação simples, mas muito importante para dar vida a uma trama social.


A primeira visita na cadeia, inclusive, gera um dos momentos mais dramaticamente bem construídos da novela. Kátia morre nos braços de Lurdes, que a perdoa por ter roubado seu filho enquanto o próprio chora pela morte da mãe “adotiva”. É uma cena corajosa, forte e impactante, também pela presença nova em tela: Humberto Carrão, que vive o filho perdido de Lurdes e aparece para dar um novo tom de emergência à história.

Ação em novo ritmo

Em uma das primeira sequências de ação, Sandro tenta fugir com comparsas do crime durante o velório de Kátia. Lurdes se desespera e acaba atrapalhando o plano sem entender muito o que está acontecendo. O que surpreende esteticamente aqui, além da fotografia que consegue afastar o registro da breguice do confronto, é o som. A trilha de ação evocada nesses momentos é um samba ritmado para dar volume e uma cara diferente a essas cenas. A mesma roupagem acontece quando Amanda joga uma informação no galpão onde está Davi e Guará (amigo vivido pelo cearense Demick Lopes), que se assusta e procura pela rua quem o fez.

A segunda semana encerra com Lurdes planejando a entrega de um celular de Marconi (traficante conhecido pela mídia) a Sandro, filho dentro da cadeia. Ela esconde o aparelho dentro de um bolo. Alguém imaginava que apenas sete dias depois, Lurdes faria uma cena dessas? Manuela Dias não para de impressionar. Cenas dos próximos capítulos...

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