Big Brother Brasil: o que convence na narrativa do espetáculo?
De volta ao centro das atenções, o maior reality-show da televisão brasileira ganhou narrativa do público.
Nas últimas semanas, foi difícil conviver no mundo das redes sociais sem se deparar com uma longa discussão sobre o Big Brother Brasil, reality show famoso da Rede Globo exibido desde 2001. Talvez de uns 10 anos para cá, a sua percepção defasada se instalou sobre o pensamento crítico acerca do consumo de entretenimento de televisão, tornando o programa um vilão do bom senso na rede pública. Mas por que então, de repente, o programa se tornou uma febre entre os usuários da internet? A resposta tem a ver com uma narrativa muito bem projetada, porém pouquíssimo previsível por seus organizadores.
Quando o ginasta Petrix assediou uma das participantes, pegando em seus seios quando ela estava bêbada, a coisa “tão fútil” como o BBB invadiu as redes de notícias. A partir de então, o ódio se instalou sobre esse personagem que até pouca gente sabia quem era. Fomos no Twitter, vimos vídeos, relatos e opiniões diversas sobre o ocorrido. O mesmo se repete quando o mesmo Petrix esfrega suas partes íntimas na cabeça de outra participante – a onda de indignação pela internet aumenta e o caso que era só uma manchete começa a indignar um público com pouco ou nenhum interesse pelo programa: como que um homem desse tá dentro da casa?
Como novos olhares para o programa, outra descoberta: o grupo dos homens (no clássico estereótipo hétero machista de academia) combinam uma estratégia aparentemente brilhante – dar em cima das garotas comprometidas fora da casa para elas se queimarem e, assim, serem eliminadas. Bizarro, e Petrix foi um dos que deu ideia, dizendo inclusive que sabia dançar e que poderia ser uma boa ferramenta.
De repente, essa narrativa é imediatamente aceita pelo público como uma alternativa de justiça diante os dias tão entediantes. A eliminação de Petrix tornou-se uma meta muito popular, e bares por todo o Brasil transmitiram ao vivo o programa com direito a promoções de cerveja e petiscos, bem Copa do Mundo. Bom, para o bem da internet, ele foi eliminado com uma das maiores rejeições da história do programa: 80,27% de um paredão quádruplo.
Outro acontecimento, porém, reforça o interesse na narrativa: as mulheres da casa não faziam ideia de que Petrix era um dos “comandantes” do plano, e sequer de seus assédios. Marcela havia relatado às outras mulheres que ouviu o plano da boca de Hadson, outro participante que participou dessa conversa. Então a casa o projetou como único inimigo e o colocou no paredão tendo a certeza de que o público sabia da sua culpa (que ele não assumia).
Quando Petrix foi eliminado, o choque interno foi imenso. Afinal, ele fazia o papel de bom moço. A casa começa a desconfiar de Marcela, que havia relatado o que ouviu de Hadson. Do lado de fora, volta a sensação de injustiça, urge a discussão da imposição machista ao desacreditar no relato de uma mulher. Na madrugada da eliminação de Petrix, no entanto, entram dois novos participantes que levam informações de fora: não confiem nos homens. As mulheres então se unem e os excluem do convívio social.
E agora? Quem vencerá? Os homens que não assumem ter feito parte do plano ou as mulheres que agora precisam conviver com a falta de um mero pedido de desculpas? Entende como essas perguntas são fortes?
Felipe, um dos vilãos, hoje é uma peça cômica na casa. Pyong, o mágico carismático que inclusive defende Governo Bolsonaro, o velho da Havan e Sérgio Moro, revelou-se tão assediador quanto Petrix. Babu Santana, o paizão da casa, ausenta-se dessa discussão mas fortifica um ponto de vista do racismo e da gordofobia que não há somente dentro da casa – e isso é o que torna a narrativa nacional – mas no país.
No fim das contas, esse microcosmo se relaciona muito com o mundo aqui fora. Claro que não é um processo orgânico por parte da produção que selecionou muito bem essas peças para causar o que estamos testemunhando nesse momento. É falso, manipulador, oportunista e pouco digestivo, mas você entende como essa narrativa convence facilmente como uma peça de espetáculo sobre justiça?
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