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  • Foto do escritorArthur Gadelha

Cine Ceará: "Fio de Ariadne" cria mistério para expulsar o passado

CRÍTICA Novo filme de Mozart Freire com Ton Martins constrói uma alegoria modesta, mas autossuficiente

"É só balançar que a corda me leva de volta pra ela...", canta um Gilberto Gil sorridente na canção Sandra para dar essa emoção de uma conexão eternamente relacionada à sua existência. Muito longe dessa euforia, aqui Ariadne se sente constantemente puxada por uma corda sufocante que paralisa seu corpo, logo agora que está gerando outro. Anunciado ainda na abertura do filme, esse fio "se alimenta de culpa" para sempre cobrar por pesares do passado. O que é essa culpa que ela sente? Não sabemos. Resposta que nos leva ao cinema de um de seus diretores: Mozart Freire e sua própria história no Cine Ceará.


Em 2016, apresentou os curtas Cinemão e Janaína Overdrive, vencedores da Mostra Olhar do Ceará e Prêmio Universitário, respectivamente. No primeiro, ao se debruçar sobre as sensações soturnas de um cinema pornô gay, o filme observa personagens sem histórias - não sabemos quem são, o que fazem, e nem propriamente quais as relações particulares de cada um com aquele espaço. O que temos, e vemos, são corpos que se compartilham no segredo. No segundo, mesmo que tenha uma estrutura mais narrativa, também não sabemos pouco sobre Janaína, uma ciborgue trans buscando se libertar da corporação que tinha domínio sobre seu corpo. O que temos, e vemos, é sua missão pela fuga. Em Pop Ritual (2019), também vencedor da Olhar do Ceará, vemos um padre que mantém em cativeiro um vampiro, sobre o qual, não sabemos nada. Temos o que interessa: a revolta do monstro, o medo do ser humano.

Puxando a corda de volta para 2022, Fio de Ariadne se desenvolve sobre essa mesma condição de mistério, e acompanhamos uma mulher grávida (vivida pela mesma Layla Sah de Janaína) que tem lapsos de pavor quando sente algo ruim se aproximando dela - seja por dentro, seja por fora. O telefone que toca, a porta que se bate, o estômago que empurra; quando fica evidente que esse mal-estar está isolado no seu passado, distante dos outros e do mundo, lembro de Lady Gaga: "The monster inside you is torturing me, the scars on my mind are on replay..."


A trama demonstra esse esforço para construir potência, como na alegoria das linhas de costura ou nas cenas que emulam, brevemente, uma atmosfera de horror. A duração desses elementos não são tão eficientes, no entanto, fazendo com que seu gesto de ponto final não tenha tempo de surpresa, epifania. Nessa equação, porém, as imagens sobrevivem: o banho sobre o corpo, o expurgo da linha e, principalmente, o baile na praça. São momentos pequenos de um filme que já é pequeno, mas são ideias que ficam.

 
 

Direção: Mozart Freire e Ton Martins

Produção: Renata Cavalcante

Roteiro: Mozart Freire e Ton Martins

Fotografia: Irene Bandeira

Direção de Arte: Jônia Tpercia

Montagem: Abdiel Anselmo

Música Original: Abdiel Anselmo e João Victor Barroso

Som Direto: Vivi Rocha Jones

Finalização de Som: Abdiel Anselmo

Elenco: Layla Sah e Patrícia Dawson

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