Cine Ceará: Na busca pelo Oscar, "O Invisível" desaparece sob conflito materno
CRÍTICA Dirigido por Javier Andrade, trama impassível foi escolhida para representar o Equador na corrida pelo Oscar de Filme Internacional
À medida em que a peregrinação silenciosa de Luisa avança, enquanto ela parece perdida na própria casa, uma sensação estranha foi tomando conta de mim. Porque mesmo que visivelmente fosse um filme bem interpretado, fotografado e enquadrado, parecia que eu nunca era colocado para dentro das sensações que movem sua protagonista, distância que funciona como ferramenta de suspense em vários filmes, mas não nesse – roteiro e direção não conseguem explorar essa ausência de forma a torná-la atraente.
Na trama, Luisa volta de um centro psiquiátrico após sofrer depressão pós-parto e tem seu conflito estendido por não viver num ambiente acolhedor. Apesar de ser sua casa, parece que todos ao redor não fazem parte da sua vida, percepção que inclui o marido e os filhos. Na pele dessa mulher rica, Anahí Hoeneisen de fato consegue construir camadas de solidão, frustração e temor pelo presente, mágoas que podem lhe guiar a loucura como forma de negar a realidade e suas relações pessoais.
Ao isolá-la sem nos alimentar de contextos ou pontos de referência, o roteiro tenta construir sua fuga na complexa teia de poder e “afeto” que ela têm sobre seus empregados, alguns deles servidores há décadas daquela família. Na tela, esse gesto soa bastante bagunçado de construção e intenção, dada as interações de condição e domínio que estabelece com cada um. Sem ter muito para onde ir, o filme resolve ter como clímax justamente o momento em que essa barreira (invisível, como ela mesmo se sente) é atravessada. É um restabelecimento do poder ou uma negação dele?
Com uma narração monótona, a direção parece não saber muito nem como destrinchar essas questões e nem como, em contraponto, usá-la como tal para fazer do filme um espelho apático de sua personagem. Como espectador, fico esperando algo surgir daquele vazio que não a mensagem já estabelecida quando Luisa surge abalada na primeira cena. Ao longo da curta projeção, nada comove, nada sai do lugar.
Nesse ritmo tudo é muito borrado. Com um trabalho primoroso – e potencialmente memorável – de fotografia e arte, a impressão constante é de uma obra que quer ser sensorial, contemplativa, mas sem deixar que cheguemos perto. As paisagens perdidas em segundo plano, os reflexos, a contraluz, tudo para “aprisionar” sua protagonista tão frágil, clausura que me lembra Greta (2019) sem um pedaço do seu sentimento. Ao querer ser um filme gelado, silencioso e imóvel, O Invisível acaba ele mesmo desaparecendo.
Direção: Javier Andrade
Roteiro: Javier Andrade e Anahí Hoeneisen
Direção de fotografia: Daniel Andrade
Projeto de produção: Belén Draghi
Desenho de som: Juan José Luzuriaga
Montagem: Javier Andrade, Fernando Epstein, Magdalena Schinca
Música: Paola Navarrete
Produção executiva: Oderay Game, Pablo Fiallos, Demian Gross
Produção: Daniel Andrade, María de los Ángeles Palacios,
Hanne-Lovise Skartveit
Elenco: Anahí Hoeneisen, Matilde Lagos,
Juan Lorenzo Barragán, Gerson Guerra
País: Equador-França
Título Original: Lo Invisible
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