Preso no retrato, ‘Clube dos Vândalos’ prefere não ser feroz
★★★☆☆ Na grosseira guinada dos clubes às gangues, Jeff Nichols tenta encontrar o pulso do coração por debaixo da adrenalina
Na primeira vez em que aparece, Austin Butler já está como seu personagem ocupará toda a história – calado, frio, envergado e com um olhar de grande mistério. Como num clássico romance, o conhecemos quando é visto pela personagem da Jodie Comer na escura festa de um bar e ela imediatamente se apaixona. Faltou só que o tempo parasse como na belíssima cena do circo em Peixe Grande (2004). Mas aqui não há fantasia e Jeff Nichols tenta dar profundidade a algo pouco provável diante de toda violência e brutalidade machista que está explícita no seu universo, o carinho – seja entre Benny e Kathy, seja entre os próprios motoqueiros.
Então Nichols sabe que não quer um filme de ação, apesar de não dispensar o ronco dos motores, as estradas e os mergulhos na lama. Sua história quer filmar as coisas que quebram essa aventura, mas também sem qualquer irreverência que lhe torne memorável, sendo às vezes tão frágil quanto a forma como seu protagonista tropeça para guiar o roteiro.
Baseado no livro fotográfico “The Bikeriders”, de Danny Lyon, a trama acompanha um grupo de motoqueiros “fora-da-lei” que agiam como um só organismo na Chicago dos anos 1960, traçando da origem à sua lenta ruptura. Trazendo essa adaptação para parte da própria história, somos guiados pelo relato de Kathy numa entrevista que está dando para o escritor – interpretado por um fugaz Mike Faist – já anos após o clube ter se desfeito. Isso ajuda o filme a ficar se justificando, mas atrapalha o organismo do que está no centro.
Na linha tênue entre o sentimento e a negação que há em torno desses homens, Tom Hardy encabeça o elenco de forma envolvente, misturando arrogância e certa melancolia em Johnny – basta perceber, por exemplo, a forma como ele declara seu amor por Benny sem precisar dizer nada. Butler segue lá, imóvel, fazendo de sua indiferença uma energia que vai tomando conta de grande parte da narrativa.
Mas esses elementos não são suficientes para que o filme retrate as sensações particulares desse grupo, estacionando numa abordagem genérica de cenografia, decupagem e fotografia, recorrendo a lapsos temporais que só pulverizam a tensão. Claro que também é bom não saber nada sobre quem são essas pessoas, sobre suas famílias ou vidas pregressas, fazendo com que “O Clube dos Vândalos” nem se importe tanto com o movimento da sua realidade enquanto se apaixona apenas pelo retrato.
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