Diário de Bordo: 27º Cine Ceará
De 5 a 11 de agosto, cobertura diária sobre o maior evento cearense de cinema
Há mais de 20 anos se consolidando como um grande festival de cinema, o Cine Ceará chega a sua 27ª edição trazendo novidades. É perceptível o aprimoramento da organização, trazendo filmes de 13 países distintos, incluindo Brasil (com duas produções) e Chile, o país homenageado da edição. Há algumas curiosidades, como a Première Mundial de "Malasartes e o Duelo com a Morte", de Paulo Morelli, que estreia nacionalmente dia 10, antes do fim do Festival. Os outros 6 longas são Première Brasil. Abaixo, confira cobertura diária sobre filmes exibidos:
DOMINGO | 06.08
Corpo Elétrico | ★ ★ ★ ★
de Marcelo Caetano (Brasil, 2017)
Marcelo Caetano evoca um personagem que não existe no protagonismo do cinema brasileiro contemporâneo. Elias é gay e nordestino, como explica didaticamente sua sinopse, mas ao invés de isso significar uma distinção do que conhecemos, como o Iremar de Boi Neon, esse personagem solidifica a consciência do que a realidade, de fato, representa. Coincidentemente, assim como a obra de Gabriel Mascaro, ‘Corpo Elétrico’ não se embola em conflitos previstos (inclusive flertando com isso na estrutura de seu roteiro). A trama de Caetano é “simplesmente” todos aqueles sonhos que permanecem guardados.
SEGUNDA-FEIRA | 07.08
Ninguém Está Olhando | ★ ★ ½
Nadie nos mira, de Julia Solomonoff (Argentina, USA, Spain, Brasil, Colômbia, 2017)
Como explicita de modo curioso nos créditos finais, 'Ninguém Está Olhando' é fruto de várias línguas. Argentina, Espanha, Brasil, Colômbia, e Estados Unidos, unidos, para contar a história de um imigrante argentino deslocado na grande Nova York. Apesar de bem executado, o longa não encontra discursos muito além do artista frustrado que enfrenta, obviamente, uma crise profissional. Há a tentativa de se adaptar às novas regras, um ensaio sobre a solidão engessada e até mesmo conflitos sócio sexuais; mas nada que se desenvolva. O resultado é uma jornada pouco fluida sobre um personagem que nunca se torna interessante, sobretudo porque seu conflito é limitado desde o início à resoluções curtas. Atraente por criar suposições, uma história que acaba sem espaço às perguntas que deixa.
QUARTA-FEIRA | 09.08
Pedro Sob a Cama | ★ ★
de Paulo Pons (Brasil, 2017)
"O pai que vai embora" é um desses temas universais, versando com o conflito social que infelizmente é sempre atual. Mas o filme de Paulo Pons divide essa discussão em duas partes. O pai, Fernando Alves Pinto em atuação contida, abandona (ou é expulso) a vida por ser o epicentro de um acidente "trágico" e isso é a única justificativa que recebemos enquanto espectadores. Anos depois, retorna a cidade onde moram os filhos para tentar uma reaproximação. A outra parte dessa recepção causa um mal-estar pela falta de camadas em uma história de teor tão denso, como a "nova mãe" dos meninos, a avó, e todos os outros núcleos que surgem para dar consistência são frágeis, simplistas, reduzidos quase sempre a um processo maniqueísta. A avó que aparece por pouco minutos se torna uma vilã afetada na pele de Betty Faria, assim como o comodismo da mãe (vulgo esquecimento por parte do roteiro). Pedro é o filho que nasce sem ter visto o pai e alimenta durante anos uma curiosidade calada, enquanto o mais velho Mani é o filho que entrega a revolta que se espera numa situação como essa. A sensação final é de mesmice, uma obra que não encontra emoção sequer no que a torna "diferente", como a situação que intitula o filme. O que resta de envolvente é o sentimento geral de solidão que permeia a obra em momentos breves, com destaque ao desfecho arrepiante.
O Homem que Cuida | ★ ★ ★
El hombre que cuida, de Alejandro Andújar (Rep. Dominicana/Porto Rico/Brasil, 2017)
O cinema feito na República Dominicana divide dificuldades semelhantes vividas pelos países da América Latina: a predominância cultural da televisão rebaixa produções independentes, principalmente as que se afastam da comédia. "O Homem que Cuida", feito com coprodução internacional (inclusive do Brasil), é uma história que parece inofensiva demais a uma primeira vista, custando para causar qualquer envolvimento. Como a história de um caseiro que recebe "secretamente" os filhos do dono pode se tornar interessante? Conhecemos Juan, vivido por Héctor Aníbal, e o compartilhamento de sua presença endossa uma narrativa que é por si só exaustiva. A obra de Andújar não é sobre a vivência dos dominicanos naquela vila, apesar de que exista uma inquietação social em torno destes. Mas é sobre a solidão de Juan, que por questões abertas decidiu se isolar do próprio mundo num trabalho insensível, ou insuportável, como lhe aconselham os amigos. O contraponto gira em torno da irresponsabilidade e da consciência frágil de mundo dos que invadem "o seu espaço". Fazer pensar isso numa aventura sexual da classe "alta" (?) torna-se uma experiência rapidamente interessante.
PREMIAÇÃO 27º CINE CEARÁ
COMPETIÇÃO DE LONGAS Melhor Longa-metragem
Ninguém está olhando - Julia Solomonoff
Melhor Direção
Últimos dias em Havana – Fernando Pérez
Melhor Fotografia
Últimos dias em Havana – Raúl Pérez Ureta
Melhor Montagem
Ninguém está olhando – Andrés Tamborino, Karen Sztanjberg e Pablo Barbieri.
Melhor Roteiro
Santa e Andrés – Carlos Lechuga
Melhor Som
Uma mulher fantástica – Isaac Moreno
Melhor Trilha Sonora
Uma mulher fantástica – Matthew Herbert
Melhor Direção de Arte
Malasartes e o Duelo com a Morte – Tulé Peake
Melhor Ator
Ninguém está olhando – Guillermo Pfening
Melhor Atriz
Santa e Andrés – Lola Amores
Prêmio da Crítica (Abraccine)
Ninguém está olhando - Julia Solomonoff
COMPETIÇÃO DE CURTAS
Melhor Curta-metragem
Festejo Muito Pessoal - Carlos Adriano
Melhor Direção
Valentina - Estevão Meneguzzo e André Félix.
Melhor Roteiro
Memórias do subsolo ou o homem que cavou até encontrar uma redoma - Felipe Camilo.
Melhor Produção Cearense
Caleidoscópio - Natal Portela
Prêmio da crítica (Abraccine)
Vênus - Filó a fadinha Lésbica - Sávio Leite
Mostra Olhar do Ceará:
Troféu Mucuripe
Melhor Curta-metragem
A Lenda Cotidiana - Bárbara Moura e S. de Sousa
Prêmio Olhar Universitário:
Troféu Mucuripe
Melhor Curta-metragem
Simbiose - Júlia Morim
Melhor Longa-metragem
Últimos dias em Havana - Fernando Pérez
PRÊMIOS ESPECIAIS
Troféus Samburá:
Melhor Curta-metragem
Valentina - Estevão Meneguzzo e André Félix
Melhor Diretor
Vando Vulgo Vedita - Andreia Pires e Leonardo Mouramateus
Prêmio Unifor de Audiovisual:
Melhor Curta-metragem
A Lenda Cotidiana - Bárbara Moura e S. de Sousa
Prêmio CiaRio:
Curta-metragem Brasileiro
Festejo Muito Pessoal - Carlos Adriano
Prêmio Mistika (Masterização em DCP)
Melhor Produção Cearense da Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem
Caleidoscópio - Natal Portela
Melhor Curta-metragem da Mostra Olhar do Ceará
A lenda cotidiana - Bárbara Moura e S. de Sousa
Prêmio Aquisição Canal Brasil:
Melhor filme da Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem (R$ 15.000,00)
Memórias do subsolo ou o homem que cavou até encontrar uma redoma - Felipe Camilo
Mostra Curta Cocó:
Melhor Curta-metragem
O que é Parque do Cocó? - Marilia Alencar
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