Sem energia, “Duna” vislumbra um Denis Villeneuve cansado
CRÍTICA Sintonizando elenco, fotografia e som diante do eco, cineasta canadense prova porque se faz necessário na indústria americana
Denis Villeneuve estava mesmo destinado à megalomania da qual sobrevivem os blockbusters dos EUA. Nos seus filmes mais bonitos, Os Suspeitos (2013) e Enemy (2013); e até nos esbanjados em labirintos charmosos Incêndios (2010) e A Chegada (2016), estava ali adormecida uma vontade pela lenta dissecação do mistério, dinâmica que mirava em David Fincher e respigava inevitavelmente em Christopher Nolan. Mas Denis tomou para si uma devoção à sensação principalmente estética, uma crença que as imagens e os sons sustentam, individualmente, a imersão na sublimidade. Blade Runner 2049 (2017) e Duna (2021) ecoam, portanto, como filmes gêmeos de experimento dessa contradição, lugares que Denis se mostra à vontade na revisita de universos alheios, como se o fato de já existirem fosse um ótimo resguardo para que essas abordagens não caiam no limbo – esperto, e inteligente até, pois o tiro fica menos no escuro.
Na sequência da civilização robótica, Ryan Gosling perambula sem história enquanto tenta nos captar por suas emoções reprimidas, criando um paralelo com a beleza desolada das vistas por onde passa, sem que isso se torne realmente um conflito interessante – e o desfecho impassível no seu confronto despressuriza tudo. O mesmo poderia ser dito sobre Duna, uma história direta, mas que é dimensionada ao teor épico e se estende por quase três horas na intenção de potencializar os discursos reciclados de honra, poder e destino, questões que poderiam ser deliciosas se não parecessem tão cacofônicas dentro dessa narrativa ensimesmada.
O resultado dessa obsessão é um filme repetitivo, tão fascinado pela mera imaginação, que todo resto sobra, dos personagens gelados e sequências de ação sem confiança de ritmo e uma história que, sem camadas, se vê obrigada a resoluções imediatas: como a tomada da base, o jogo político do império e a mutação consciente de Paul - se a performance de Timothée Chalamet cansa em ação, as visões vacilantes de uma Zendaya saída dos comerciais de perfume, então, criam uma expectativa sufocada.
Duna parece um filme embriagado, o que não seria um problema em si se isso não fosse a constatação de sua estrutura oca. Então, claro, as imagens são incríveis, especialmente calorosas na tela brilhante do IMAX, e a textura do movimento da areia impressiona tal qual um afogamento na água. Num casamento bem injusto, a trilha sonora de Hans Zimmer é imensa, muito mais consciente da história que a direção, mas em certo grau também cúmplice de todo contrassenso entre a representação e o que há mesmo sob as faces antipáticas dos personagens e de seus cursos anticlimáticos.
Confiança há de sobra porque há uma clara consciência de que a primeira impressão comove. Então lá pela primeira hora, os elementos particulares na condução dessa atmosfera vão aborrecendo: os sussurros, as profecias, os poderes, as paisagens, e o filme vai se tornando cada vez mais uníssono. A intenção sisuda é aberta, evidenciada por um último conflito às pressas no renascimento de Paul e seu futuro, conclusão que também se vigora numa coragem admirável – afinal, é surpreendente que tanto investimento tenha sido feito para uma história de tensão tão uniforme, sem picos, despreocupada com o tamanho do seu passo.
Se não sustentado por um Zimmer familiar, por uma experiência exclusiva de cinema em contexto pandêmico de retorno às salas, e por um elenco afinado com as métricas do momento, dificilmente Villeneuve colocaria esse experimento à prova. Público e crítica estão consideravelmente empolgados, em especial os amantes da precursora leitura original de Frank Herbert. Esse conjunto de reações talvez indique a consagração de Denis como um “ousado” criador de sensações independentes, pronto para levar tapa a qualquer instante em que esse jogo sair dos trilhos. Ainda não chegou a hora. Mas pode ser que chegue.
★★
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Jon Spaihts, Denis Villeneuve e Eric Roth
Música: Hans Zimmer
Fotografia: Greig Fraser
Montagem: Joe Walker
Casting: Jina Jay e Francine Maisler
Decoração: Richard Roberts e Zsuzsanna Sipos
Figurino: Bob Morgan e Jacqueline West
Eu acho que eu sou um dos poucos que gostou, porque o que você descreveu do filme é o que eu senti lendo o livro, mas de fato esse filme é difícil não é para todos, assim como o livro que insistem que é.
Agora o meu problema é o que foi dito do Blade Runner, você pode querer uma ficção científica que vai para todos os lados que seja, mas história não interessante o personagem do Gosling é levado por uma investigação do passado dele que culmina em um final desolador para ele é opinião de cada um mas de longe é desinteressante é como 2001 e filmes contemplativa de ficção científica é a misancene é os diálogos …