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Foto do escritorArthur Gadelha

Em ‘A Queda da Casa Usher’, Flanagan se despede com a eternidade de Edgar Allan Poe

★★★☆☆ | Mike Flanagan se despede da Netflix na mesma marcha de sempre

Divulgação: Netflix

Apesar de nada ter superado o timing narrativo de seu primeiro grande sucesso da Netflix, A Maldição da Residência Hill (2018), o que constrói o charme de Mike Flanagan como um autor fiel às experiências do terror está nas suas histórias seguintes. Missa de Meia-Noite (2021) e O Clube da Meia-noite (2022), especialmente, esbanjam sua qualidade na invenção física e emocional de seus universos, sejam eles no campo da realidade ou da fantasia - chega um ponto que até mesmo o tédio ou a prolixidade de suas narrações repetitivas podem ser relativizadas por isto: é impossível não acreditar de que tudo aquilo existe.


A mesma fórmula se repete aqui na sua despedida da Netflix, com A Queda da Casa Usher (2023). Adaptando contos distintos de Edgar Allan Poe a cada novo episódio, mas costurando suas referências numa só história, Flanagan apresenta seu maior grau criativo nessa conversão de passado e presente, entre a vida real e sua subversão.


O problema subjetivo, no entanto, é que a extensa construção dos seus personagens pode ser completamente indiferente para alguns espectadores porque são apenas detestáveis e caricatos, com emoções quase modulares, alguns reprisando até papeis que já fizeram com Flanagan no passado, como é o caso da Samantha Sloyan e T’Nia Miller. Não há porque se importar com qualquer conversa desses irmãos e suas crises familiares, mas Flanagan faz questão de ficar sempre estacionando para estabelecer a inalcançável verossimilhança de suas relações - enquanto isso, o grande mistério de horror da trama vai se tornando lógico demais para que cause qualquer suspensão ou surpresa.


Por outro lado, há sempre um contraponto. É tudo tão bem feito esteticamente, fazendo com que montagem, trilha sonora e a própria direção de fotografia consiga tomar as rédeas para outro lugar sempre que a história vai se diluindo em si mesma. Bruce Greenwood, Mary McDonnell e Carla Gugino são as únicas peças realmente atraentes diante de tudo o que aparece na tela ao longo de oito episódios. Os irmãos inseparáveis, frios e sisudos, dualizam com a presença espiral de uma mulher que enfrenta o tempo e a morte como um elemento só.


Ao se agregar a um material de base tão famoso e determinante para a literatura de horror, o resultado de "A Queda da Casa Usher" é quase transcendental na forma como consegue tornar suas referências contemporâneas sem nunca parecer que está exagerando qualquer conexão. Solto na sua filmografia poderia até não impressionar, mas como despedida de uma memorável filmografia para o streaming mais predador que existe atualmente, falando de indústria, maldição e sucesso como elementos indissociáveis, até parece uma obra-prima.

 

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