Escapando do colosso de Leonard Bernstein, ‘Maestro’ faz Bradley Cooper esvaziar sua recriação
★★☆☆☆ Indicado a sete Oscars, incluindo Filme, Ator, Atriz e Roteiro Original, "Maestro" é o segundo longa-metragem dirigido por Bradley Cooper
Ainda nos primeiros segundos em que seu rosto toma a tela, é notável o quanto há um esforço imenso deste ator/autor para fugir da caricatura que um projeto como esse representa automaticamente. Numa espécie de "filme biográfico" sobre Leonard Bernstein, maestro e compositor de carreira estratosférica nos EUA, Bradley Cooper tenta fugir da caricatura na decisão de não esconder a caracterização e fazer seu personagem ser filmado quase sempre muito de perto para que seu olhar, seu sorriso, e a prótese do nariz também, quebrem logo o gelo que é a plástica visual de tudo isso. Essa abordagem me lembra Meryl Streep na sua frágil Margareth Thatcher não só pela fisicalidade, a maquiagem em si e seus gestos calculados, mas principalmente pelo engasgo que essa "transformação" tende a exigir.
O resultado é bem indigesto porque tudo ao redor tenta construir uma estética mais fantasmagórica, distante e melancólica, talvez para dar uma gravidade lúdica e saudosa ao tempo que este músico atravessa na dúvida entre paixões, mas muito certo de seu lugar no mundo. Diante desse alguém tão importante, Cooper se esquiva de criar o "colosso", preferindo um caminho "dos bastidores", de alguém "não visto", como o Steve Jobs elétrico do Michael Fassbender, parar criar algum laço com seu espectador para além do tédio da "recriação".
Então Felice Montealegre, a esposa, surge como essa gangorra para dignificar a lealdade borrada de seu protagonista - Carey Mulligan respeita bem essa personagem, com momentos aqui acolá envolventes, mas não há muito o que fazer com essa disposição tão esquemática do que os dois representam na vaga composição do atrito tão anunciado entre a ficção e sua especulada realidade.
A Maestro sobra, portanto, a emoção já enlatada anteriormente pelas dezenas de biografias, oscarizadas ou não, escondendo sob ambiciosos jogos cênicos o fato de que sobra pouca autenticidade no seu gesto. Brigas, doenças, paixão e reconciliação, tudo formatado para que o mergulho raso não machuque ninguém.
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