Tiradentes: "Sessão Bruta" investiga memórias para o futuro de algum filme
CRÍTICA Com o pé no experimentalismo, um pré-projeto consciente do que não lhe é completo
"Amiga, o que você quer com esse vídeo?". Ora experimental, ora flertando com os formatos tradicionais na composição dos relatos, esse filme felizmente não esconde a instabilidade da sua rota, costurando-se numa longa teia de memórias e pensamentos na defesa de um “filme ainda a ser feito”, como anuncia sua sinopse. Assim como outros filmes pessoais do cinema independente brasileiro, Sessão Bruta é um documento que celebra a amizade como estrutura de manutenção da existência como tal - aqui, claro que a reflexão é centralmente outra com o ponto de vista sobre como corpo, gênero e raça ocupam as imagens permitidas, opressoras e passíveis de revoluções tardias.
Para tear essas ideias, são recuperadas imagens captadas em 2018 com uma câmera Mini-DV que registram vários momentos de reuniões, conversas, brincadeiras e festas, em casas, festas e ruas, olhares íntimos sobre suas presenças compartilhadas física e mentalmente. Abrindo com uma hilária conversa com a assistente do Google, o filme já se firma nesse ritmo ora leve e engraçado, ora tenso e introspectivo, montanha russa que também está marcada na (des)organização visual e sonora de tudo o que vamos assistindo em sequência.
Como manifesto bruto – tal qual a ideia incompleta da sessão – essa viagem é comovente e honesta, até porque são relatos extensos que caminham por diferentes percepções das alegrias às frustrações clandestinas. Como filme, porém, é um exercício pouco eloquente na confiança de que esse “por fazer” o isenta dos desenvolvimentos individuais, apostando nas suposições que ficam sobre o que significa esse afeto coletivo. Começando no contraste entre um mundo real com a emoção das memórias, a trajetória vai aos poucos se reduzindo num formato de poucas fugas nas vozes em off cobertas pelo cotidiano.
Acaba que é um filme pouco “experimental”, de fato, apesar de depender dessa constatação para justificar as ausências. Cruzando as limitações de um cinema caseiro com a imaginação de um cinema de arquivo, Sessão Bruta soa como um filme que se estica em torno da crença de que "ser um longa-metragem" é uma oportunidade boa à qualquer custo. Na realidade, o formato extenso e cansativo parece é injusto diante das vontades e conversas aqui declaradas com tanto carinho.
Direção: As Talavistas E Ela Ltda.
Produção: As Talavistas, Duca Caldeira, Yunni, Rita Boechat
Montagem: Gabriela Luíza e Tiago Mata Machado
Fotografia: Gabriela Luíza
Direção de Arte: Darlene Valentim, Dyony Moura, Marli Ferreira, Pink Molotov
Trilha Sonora: Gabriela Luíza, Tiago Mata Machado, Ravi Brandão
Mixagem: Chico Leibholz
País: Brasil (MG)
Ano: 2022
Essa crítica faz parte da cobertura da
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